Vamos falar de surto psicótico?
Nos últimos tempos têm-me chegado à clinica vários casos de indivíduos que sofreram recentemente um surto psicótico que os fez procurar ajuda psiquiátrica e, posteriormente, psicoterapêutica.
Como psicoterapeuta tenho o nestes casos o hábito de rever as histórias dos clientes, navegando na linha do tempo para identificar possíveis situações anteriores uma vez que o surto psicótico pode ser o culminar de vários episódios mais pequenos aos quais não foi dada a devida atenção em termos de acompanhamento.
Estar atento aos sinais permite prevenir algumas situações. Por esse motivo coloco aqui os aspetos mais importantes a ter em conta na identificação dos sintomas e o tipo de atuação para encaminhamento especializado.
O que é um surto psicótico?
O surto psicótico acontece com maior frequência do que imaginamos, pode é não ter a dimensão que atribuímos pelo que vemos nas notícias ou nas séries de televisão: acontecimento negativo, nomeadamente ato violento ou sem sentido aparente, cometido por alguém que até então era considerado saudável.
A palavra "surto" é utilizada para descrever mudanças de comportamento inesperadas ou desproporcionais diante de um acontecimento do dia a dia. Porém, ao contrário do que acontece em situações quotidianas específicas, como um acesso de raiva passageiro no meio de uma discussão, por exemplo, o surto psicótico normalmente ocorre sem aviso, sendo acompanhado por sintomas psicóticos (ou psicose). Utilizamos a palavra psicose para descrever um conjunto de sintomas que afetam os pensamentos das pessoas, sentimentos e comportamentos.
Quais os sintomas?
As pessoas em surto psicótico costumam perder o contato com a realidade e reagem de maneira muito diferente do habitual.
Alucinações
A pessoa pode ver, ouvir ou cheirar coisas que não existem realmente. Por exemplo, pode ouvir vozes que mais ninguém ouve, ou ver coisas que não acontecem.
Delírios
É comum ter falsos pensamentos. A pessoa pode estar completamente convencida do seu delírio e nem o argumento mais lógico consegue modificar a sua forma de pensar. Por exemplo, ter a certeza que está a ser perseguido ou observado por câmaras".
Confusão de pensamento
Os pensamentos tornam-se confusos e pode sentir dificuldades de concentração, seguir uma conversa ou recordar-se de algumas coisas. Os pensamentos podem parecer acelerados ou lentificados.
Alterações de comportamento
Pode comportar-se de forma diferente do habitual: pode estar extremamente ativa ou sentir dificuldade em ter energia para fazer suas tarefas; pode ter comportamentos bizarros e desadequados, como ficar zangada sem causa aparente ou rir-se de situações que não são engraçadas.
Outros sintomas comuns do surto psicótico são: ansiedade, agressividade, dificuldade de comunicação, isolamento social, perda da noção de tempo e espaço, comportamento catatónico - ficar parado sem qualquer reação - e rápidas oscilações de emoções e de humor, como medo, euforia, pânico e raiva.
Quais os fatores que podem despoletar um surto psicótico?
Há diversos fatores que podem levar a um surto psicótico, entre eles as condições mentais ou psicológicas do indivíduo, problemas médicos e consumo excessivo de álcool e de outras drogas.
Doenças hepáticas, problemas na tiróide, acidentes vasculares cerebrais (AVC), lúpus, sífilis ou mesmo infeções simples podem causar esse tipo de sintoma, dependendo da condição clínica geral do paciente.
O abuso ou a abstinência de substâncias estão entre as principais causas do surto psicótico, pois todas as drogas, principalmente as ilícitas, têm potencial de alterar o funcionamento do sistema nervoso central, seja de forma temporária, seja prolongada. Alguns tipos de substâncias podem comprovadamente induzir uma doença psiquiátrica grave, como por exemplo o uso de erva, que está entre os fatores de risco para o desenvolvimento da esquizofrenia. [Os efeitos das substâncias com utilização medicinal estão salvaguardados pelo devido acompanhamento médico].
Outros fatores mais raros que podem estar relacionados ao surto psicótico são efeitos adversos a medicamentos, lesões cerebrais, stress psicológico severo, experiências traumáticas, privação de sono prolongada, desequilíbrio hormonal, procedimentos pós-cirúrgicos e predisposição genética.
Qual o tratamento mais adequado para o surto psicótico?
O tratamento para psicose deve ser indicado após um diagnóstico minucioso, realizado por preferencialmente por equipas multidisciplinares especializadas, composta por profissionais capacitados e preparados para este tipo de ocorrência. Uma avaliação médica completa e detalhada oferece a possibilidade de escolha de um tratamento estruturado, individualizado e adequado às características específicas de cada pessoa.
Existe um consenso alargado sobre o tratamento mais adequado, que passa pela combinação da intervenção psicofarmacológica e da intervenção psicoterapêutica. Pode ser também realizada uma destas formas de intervenção isoladamente, dependendo das causas do problema e do estágio em que a pessoa se encontra.
Em casos de consumo abusivo de substâncias psicoativas, os sintomas podem passar após o término dos efeitos da substância. Porém, se isso não ocorrer, serão necessárias outras medidas além da simples desintoxicação para tratar o surto psicótico, como o uso de medicamentos, acompanhamento psicológico e até mesmo internamento.
Se sentir ou conhecer alguém que apresente sintomas que possam de alguma forma colocar a hipótese de ter uma psicose, deve procurar ajuda médica especializada o mais rápido possível, contactando preferencialmente um médico especialista em psiquiatria ou psicoterapia.
Catarina Lourenço de Carvalho
Cédula Profissional OPP: 5357
Consultas de Psicoterapia
Especialidade Psicossomática e Epigenética
Lisboa e Estoril
catarina_nl@sapo.pt | 964775677
Consulta bibliográfica:
American Psychiatric Association (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-V (5ª Ed.). Porto Alegre: Artmed.
https://www.e-konomista.pt/artigo/surto-psicotico/ (adaptado)