Musicoterapia e distúrbios alimentares: Áreas de intervenção musicoterapêutica
1. Área emocional
Os pacientes com transtornos de conduta alimentar costumam ser pessoas com grandes dificuldades para expressar o que sentem. Com a musicoterapia se trabalha a identificação e a aceitação das próprias emoções, para depois se passar à expressão das mesmas.
A musicoterapia oferece a oportunidade de expressar aqueles sentimentos de confusão, agressividade ou medo sem necessidade de o fazer através da linguagem verbal já que são sentimentos e vivências difíceis de expressar por palavras.
2. Área social
A área das relações sociais apresenta também grandes dificuldades. Com a musicoterapia de grupo é possível estabelecer vínculos entre os pacientes permitindo que se aprenda a pedir o que se precisa, a ter um papel principal com o reforço musical do grupo, levando estas interações para o comportamento social fora das sessões.
Com a improvisação é possível vivenciar a independência, autonomia e a influência sobre as outras pessoas, passando de um estado de caos a um entendimento entre pacientes. É uma forma de criar proximidade em que através do encontro sonoro ou do ritmo musical pode promover o contacto ou retirar-se desse encontro em qualquer momento por decisão própria.
3. Área corporal
A musicoterapia permite desenvolver a vivência corporal e descobrir as possibilidades expressivas do corpo. Esta é um aspeto importante no processo terapêutico porque permite explorar a rigidez mental sobre a forma como se olha a silhueta e o peso corporal.
4. Área cognitiva
Através da pulsação e do ritmo é possível trabalhar o comportamento compulsivo relacionado com o pensamento obsessivo que caracteriza este tipo de distúrbios alimentares. Com a musicoterapia é possível aumentar o conhecimento pessoal e diminuir os sentimentos depressivos, muito frequentes neste tipo de paciente.
Com a musicoterapia há uma reeducação do paciente principalmente em situações de stress que decorrem das mudanças significativas que se registam pela alteração de comportamento – o voltar a comer corretamente, sem comportamentos purgativos.Além disso, o cantar, escrever canções e os jogos musicais são também uma forma de manter a cabeça ocupada enquanto o corpo faz a digestão, desviando assim a atenção para algo criativo que permite também mudar o pensamento e aumentar o conhecimento de si próprio.
Atividades e técnicas utilizadas
1. Teatro musical: permite trabalhar objetivos muito concretos como o perfecionismo, a rigidez e o comportamento obsessivo, a necessidade de controlo, o autocontrolo, a autonomia, as relações interpessoais, a autoestima e a instabilidade emocional.
2. Improvisação musical: procurando explorar aos poucos a incapacidade de reconhecer os limites, a dificuldade em começar (relacionado com o medo de errar), a dificuldade em acabar (relacionado com o medo de desprender-se das coisas), a improvisação compulsiva e mecânica (que é muito caracteristica da improvisação nos grupos com pacientes com anorexia), a ausência de silêncios e pausas, mas também a ausência de sons com volume sonoro.
3. Relaxamento reforçado com música: permite a aprendizagem das diferentes técnicas de relaxamento, a tomada de consciência da importância do relaxamento em momentos concretos do dia, em situações específicas, com a correta postura corporal, a aprendizagem na escolha da música mais adequada para cada um com o objetivo de conseguir a independência suficiente e um relaxamento apropriado em qualquer situação, e, por último, a promoção de partilha de opiniões sobre os efeitos que as técnicas de relaxamento têm em cada um dos pacientes.
4. Musicoterapia grupal: estas sessões permitem facilitar a expressão de sentimentos (em primeiro lugar a identificar e a aceitar as próprias emoções para depois passar à livre expressão), a fomentar a verbalização, a trabalhar a expressão corporal (aceitação do próprio corpo e desbloquear toda a rigidez), a trabalhar a nível cognitivo os aspectos relacionados com o próprio transtorno. Aqui aplicam-se também as outras técnicas e recorre-se a outras artes como a pintura ou a literatura.
Em síntese, as sessões de musicoterapia permitem estabelecer um espaço seguro de partilha, desenvolver a criatividade sonora vocal e instrumental como forma de linguagem, conhecer o comportamento alimentar e atuar ao nível cognitivo, trabalhar sobre a imagem corporal, possibilitar o desejo e a gratificação e trabalhar a relação familiar através das interações que se vão estabelecendo durante o processo de intervenção musicoterapêutico.
Bibliografia
Gaurí, A. (2010). Musicoterapia en los trastornos de la conducta alimentaria. Barcelona: Centre AUCA.
Pierini, M. E (1999).Tesis: Musicoterapia en los TrastornosAlimentarios.Buenos Aires: Universidade de Salvador.